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Artigo de Opinião

Literacia no comércio é investimento na economia

Opinião de Telmo Santos, co-CEO Eupago
12 Sep 2025

Escrevemos no fim-de-semana passado mais um capítulo na nossa vida política que, inequivocamente, trará consequências para o nosso país. Os desafios económicos como a inflação, a pressão sobre os salários ou o sistema fiscal exigente do nosso país, têm persistido e o governo que agora inicia funções tem a responsabilidade de redefinir o papel do sistema financeiro na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Isto passa por apoiar, em primeiro lugar, o tecido empresarial português – em especial os 99% a que correspondem as PMEs.

Reconhecer que a literacia digital deve ser encarada como uma ferramenta estratégica para as pequenas e médias empresas é imperativo nos dias de hoje – tanto para quem já é empresário veterano, como para quem quer começar o seu negócio de e-commerce, por exemplo. A persistência de lacunas neste domínio, sobretudo entre os pequenos comerciantes, representa um entrave silencioso ao desenvolvimento económico sustentável do país.

Ainda há, em pleno século XXI, milhares de portugueses sem literacia financeira suficiente para tomar decisões conscientes, como a gestão do salário mensal; atrevo-me a perguntar quantos de nós fazem um esforço proativo para gerir a taxa de esforço que aplicamos no nosso vencimento. Se este governo quiser marcar a diferença dos que os precederam e alavancar uma economia forte assente na capacidade empresarial do país, deve apostar em medidas que promovam a educação financeira a vários níveis – não só para jovens, mas também para os adultos, e sobretudo aqueles que procurem ou queiram empreender.

O Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (CNSF) avançou com um estudo em 2023 que revela que, apesar dos esforços, a literacia financeira em Portugal continua a apresentar desafios. Cerca de 70% dos portugueses utiliza a internet para fazer transações financeiras, mas ainda há uma parte da população que não está confortável com estes métodos de pagamentos; aliás, o MBWay é o mais popular para pagamentos com o telemóvel, enquanto a adoção de outros meios como as carteiras digitais fica limitada a uma pequena fatia da população.

Precisamos de programas de educação, sim, mas apenas se acompanhados da sua implementação. Durante décadas, as políticas públicas voltadas para o comércio centraram-se, na maioria, em estímulos fiscais, incentivos ao investimento ou programas de modernização de infraestruturas. No entanto, pouco se tem discutido sobre a qualificação humana de quem está à frente dos negócios. Se Portugal quer alavancar o tecido económico do país a partir do esforço empreendedor de milhares de pequenos comerciantes, é preciso que lhes seja dado acesso adequado a informação e formação. Uma população financeiramente mais instruída levará sempre a um país mais rico.

 

In Executive Digest